O CMRJ existe a cento e vinte quatro anos. Qualquer abordagem que pretenda compreendê-lo, hoje, não pode prescindir de considerar sua idade – e a da instituição a qual se filia, o Exército –, como um elemento de análise.
Porque, para as instituições totais (GOFFMAN, 2001), e no caso particular da formação militar (FOUCAULT, 2002), a instituição tem a pretensão de incutir certo conjunto de valores em seus membros, e dispõe de recursos para monitorar a adesão a eles. Sendo um conjunto axiológico tomado como perene, ele é desistorizado, os valores aos quais remete são tidos como sempre postos. É importante, portanto, em qualquer investigação, situar novamente a instituição em seu processo histórico, enxergar suas mudanças e evoluções, bem como a mecânica de criação e escolha das tradições para as quais a norma veio a olhar, no presente. É neste sentido que colaborará com a pesquisa o levantamento e entrecruzamento de três vertentes: as histórias da educação brasileira, da formação militar e do CMRJ.
Não estando no centro da investigação, este esforço periférico se justifica porque os Colégios Militares ocuparam posições móveis em relação a educação nacional, estando, no começo, mais voltados à formação de quadros para a Força Armada e só muito recentemente integrados às finalidades da educação básica; porque a própria formação militar sofreu grandes transformações nos últimos cento e cinquenta anos (sendo a profissionalização da carreira, como a entendemos hoje, fruto com menos de cem anos); e porque sua história específica contém uma diversidade que o retrato contemporâneo, fixado (no sentido proposto pela ANT) nas instalações, normas, uniformes, gestos, costumes e tradições, não facilita a percepção.
Este esforço deverá dar conta das contradições do percurso, ou seja, da maneira como a história vai sendo composta entre as afirmações institucionais e as confirmações (ou não) dos envolvidos, que resistem reescrevendo, cotidianamente, a memória do Colégio.
São essas pequenas influências, narrativas que parecem pontuais, que enriquecem a historiografia na medida em que evidenciam a fragilidade dos fatos, se tomados como fatos e não como um fluxo inconstante de acordos (fatos podemser, em certa medida, actantes e dispositivos). De certa forma, é não concordando com a história como lógica dos fatos, como causalidade racional, que podemos reforçar a abordagem seguida e o próprio conceito de contemporaneidade (1).
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(1) Pensamos, é claro, na genealogia que Foucault (2007) propõe pensando em Nietzsche.
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